I. Simon Molitor, um nome quase desconhecido
II. A primeira sonata para guitarra publicada em Viena: Sonata N° 1, opus 7
III. Sonata N° 2, em Dó maior, opus 11
IV. Sonata N° 3, em Dó maior, opus 12
V. Sonata N° 4, em Sol maior, opus 15
I. Simon Molitor, um nome quase desconhecido
Simon Molitor ainda é um nome obscuro no mundo da guitarra, mas ele foi um dos pioneiros da nova escrita para o instrumento, proclamando suas possibilidades polifônicas e sua capacidade de manter um discurso musical elaborado através de seus escritos teóricos e principalmente de suas obras. Na página 162 do sexto volume da Biographie universelle des musiciens escrita no século XIX por François Joseph Fétis encontramos várias entradas correspondentes ao sobrenome Molitor. Curiosamente, a que coincide com os dados que do compositor temos é a que aparece com o nome de ‘Sebastien’. Deve-se isto a um erro, mas podemos ver que o menciona ali como guitarrista que se assenta em Viena em 1800 e publica diversas obras para e com guitarra (figura 1).
Foi no início do século XX que o
pesquisador Josef Zuth escreveu uma tese sobre a importância artística deste compositor,
que publicou em 1920 com o título Simon Molitor
und die Wiener Gitarristik (um 1800). Apesar de esta publicação ter quase
um século, não possuímos até hoje estudos mais aprofundados ou com ampla
difusão sobre o tema. William Newman, em seu exaustivo estudo sobre a ideia do
gênero sonata através da história, menciona centenas de compositores e não
deixa de citar a Simon Molitor, baseado na obra de Zuth anteriormente
mencionada. Aqui nos informa que este foi um compositor alemão de ampla
formação, que chegou a Viena em 1802 e que, além de canções, métodos, e outras
obras, deixou seis sonatas em três movimentos, das quais, os opus 3, 5, 7 e 11
foram publicados em Viena entre 1804 e 1809 enquanto que os opus 12 e 15
permaneceram manuscritos (esta informação é inexata, pois tanto a sonata opus 7
quanto a sonata opus 12 são obras em quatro movimentos). E continua dizendo que
as duas primeiras sonatas, graciosas e leves, mas não por isso faltas de
desenvolvimento, são sonatas para violino com acompanhamento de guitarra,
enquanto as restantes foram escritas para guitarra solo. E concluindo, Newman
comenta que no transcurso do longo prefácio à Sonata Opus 7 (1807)[1]
que discorre sobre história, a “Grande Sonata para Guitarra Solo, composta como
um exemplo de um melhor tratamento deste instrumento”[2],
Molitor remarca que ele não conhece ainda ninguém que tenha mostrado em
detalhe, como fizeram para outros instrumentos de cordas, como compor uma
textura harmonicamente apropriada para este instrumento.
[1] O ano citado por Newman também é equivocado, porque no fac-símile claramente pode-se comprovar, na última página do prefácio (p. 16) a data e o lugar: Viena, 1806.
[2] Subtítulo da Sonata opus 7 de Simon Molitor.
V. Sonata N° 4, em Sol maior, opus 15
A quarta e última sonata de Molitor, tal como a anterior, data de c. 1808 e tampouco foi publicada. É uma obra em três movimentos que se estruturam da seguinte forma:
I- Preludio (Sol maior, 4/4) II- Marcia (Dó maior, 4/4) III- Variationi: Andantino (Sol maior, 2/4) – Coda: Allegro 3/8. |
A sonata começa com um prelúdio –algo incomum na época– de caráter arcaizante, que remete a um canto coral (figura 89):

Outro aspecto inusual desta obra é que a forma sonata se encontra no segundo movimento na tonalidade da subdominante. O prelúdio anterior é uma peça autônoma, que não conduz necessariamente ao próximo movimento, e muito menos à nova tonalidade. Trata-se mais uma vez de uma marcha, onde podemos apreciar as características que encontramos na sonata anterior: as oitavas, os ritmos pontuados e as chamadas de trompa (figura 90). Este movimento possui forma sonata, embora menos clara que aquela da sonata opus 12; há uma modulação à dominante, mas não surge um verdadeiro tema novo, salientando-se apenas os insistentes processos cadenciais sobre a nova tônica. O desenvolvimento transita pelas tonalidades de Mi bemol e Lá bemol maior e Fá menor antes da transição que conduz a uma recapitulação convencional na tônica, Dó maior.
