Resultado de una investigación de varios años, revisado y publicado a finales de 2018, este libro trae un estudio completo de todas las sonatas escritas para guitarra en Viena, precedidas por una detallada contextualización histórica que trata varios tópicos, como la actividad editorial de la época, manifestaciones de música pública y privada, las diversas formas de sonata, la música de cámara con guitarra, entre otros.
INTRODUCCIÓN
Quando se fala sobre um período da história da música, qualquer um que for, é comum associar rapidamente a ele alguns nomes representativos de tal época, que certamente se encontram entre os mais conhecidos e são aqueles sobre cuja vida e obra se escreve e se lê com frequência, e cuja música forma parte cotidiana da agenda de concertos. Quando se menciona o nome de algum compositor, rapidamente se tecem relações de diversas índoles, que tendem a contextualizar os detalhes que dele se conhecem. Há casos nos quais o nome é tão poderoso que parece prescindir de tais contextos, como por exemplo, o nome Beethoven. Sobre ele se escreveu e se escreve abundantemente, sua música é objeto de estudo obrigatório em conservatórios e universidades, interpretada em incontáveis ciclos de concertos ao redor do mundo todo, tema de concursos e objeto de gravações integrais, de edições e reedições, e sua vida, tema de livros, filmes, análises e discussões. Quando queremos saber sobre a vida musical na cidade de Viena no tempo em que ele morava e desenvolvia sua extraordinária obra, nos encontramos com o fato de que tudo parece estar sob sua sombra. Apenas outro nome destaca nessa época e região geográfica com suficiente individualidade como para ser objeto, quase, do mesmo tratamento: Franz Schubert. Sem embargo, desde meados do século XVIII, Viena era um dos centros musicais mais importantes da Europa, com o qual apenas Paris poderia rivalizar em tal alto grau; por conseguinte, uma plêiade de músicos, compositores e brilhantes virtuoses viviam ou passavam pela cidade para tentar fama e fortuna e consolidar um nome; um mercado editorial acorde à intensa vida musical florescia também nessas terras, plasmando para a posteridade o testemunho da sua incansável atividade artística. É inevitável, pois, pensar, que os músicos que ficaram relegados pela história como figuras menores viviam e atuavam dentro de um contexto que os colocava em relação direta ou indireta com os nomes sobressalentes dessa época.
Tal é o caso dos compositores estudados neste livro: Simon Molitor, Wenzeslaus Matiegka, Anton Diabelli e Mauro Giuliani. Tendo eles composto principalmente para a guitarra, sua vida e obra resultam praticamente desconhecidas fora dos círculos guitarrísticos. Todos eles têm em comum também o fato de terem vivido e trabalhado em Viena desde a primeira década do século xix, coincidindo, portanto, com o tempo de vida de Beethoven e Schubert nessa cidade. O estudo destas ‘figuras menores’ nos permite conhecer aspectos que frequentemente passam despercebidos na maioria dos relatos da história da música, e que podem ser úteis para tecer relações entre fatos que, sob certas perspectivas, não poucas vezes parecem ser inconexos. Os nomes relacionados com a guitarra na Viena dessa época não se limitam a estes poucos, sendo, pelo contrário, bastante numerosos, mas a escolha desses quatro responde a outra característica comum entre eles: todos escreveram elaboradas sonatas para guitarra que constituem a produção total do gênero em Viena durante todo o século xix.
A proposta deste estudo é a contextualização histórico-social dos compositores e suas obras, servindo como base para a análise das vinte sonatas para guitarra compostas e publicadas em Viena durante esta época. O objetivo é o diálogo entre as informações assim obtidas, criando um complexo interdependente e evitando a visão unilateral que implicaria um estudo do contexto histórico sem a matéria musical ou uma sucessão de análises per se sem a complementação com o fato histórico.
A escolha deste tema responde a um desejo de compreensão de diferentes aspectos que costumam ser tratados separadamente. A forma sonata ocupa um papel central entre as escolhas formais dos compositores do período clássico, afetando direta ou indiretamente praticamente todos os gêneros disponíveis na época. Qual é a razão, pois, do pequeno número de sonatas para guitarra escritas em Viena durante a vida de Beethoven e Schubert? Por quê todas se escreveram dentro de um lapso extremamente curto de apenas seis anos e nenhuma outra tentativa surgiu senão até mais de cem anos depois? Uma mera análise das obras é incapaz de proporcionar uma resposta a estas perguntas. A contextualização histórica aporta, então, dados necessários para o entendimento do problema, e as análises, informações que podem apoiar ou desmentir as hipóteses.
Por estas razões, o livro se divide em duas partes: a primeira explora a vida musical vienense de começos do século xix, tratando da sonata como gênero e como forma, do mercado editorial e do papel da guitarra como instrumento relacionado a todos estes aspectos; a segunda parte consiste nas análises musicais das vinte sonatas em relação aos elementos estudados anteriormente. O livro está concebido como um avanço gradativo desde o geral ao particular, desde o funcionamento do mundo musical vienense até as particularidades específicas das sonatas para guitarra ali compostas.
A primeira parte divide-se em quatro capítulos. No capítulo I se trata sobre a existência de ‘duas Viena’, uma a de Beethoven e outra a de Schubert, que representam formas de vida e âmbitos diferentes, relacionando isto com as manifestações públicas e privadas da música na cidade. O capítulo II explora a inserção da sonata neste contexto do público e do privado, que tem a ver com os gêneros musicais próprios de cada esfera, complementando com uma breve discussão das formas de sonata, que será o ponto de partida para a elaboração das análises da segunda parte. O capítulo III trata acerca da guitarra como instrumento de música de câmara, e a forma em que ela é utilizada por compositores guitarristas e não guitarristas, em Viena e fora de Viena, na criação de obras baseadas nos princípios da forma sonata. Por último, no capítulo IV se estuda o surgimento da guitarra de seis cordas como novo instrumento com novas possibilidades a começos do século xix, relacionando isto com o papel da guitarra na sociedade da época e o mercado editorial. Antes de concluir a primeira parte e como uma espécie de preâmbulo para a próxima, se comenta a produção de sonatas para guitarra fora de Viena.
A segunda parte também está dividida em quatro capítulos, cada um deles dedicado a um compositor e às análises de suas sonatas, estudando os aspectos estilísticos e formais em relação a outras obras do período, comparando com as práticas de compositores como Haydn, Mozart, Beethoven, Clementi ou Hummel, entre outros. A metodologia de trabalho consiste na análise detalhada de uma sonata de cada compositor, utilizando-a logo como modelo para realizar os comentários sobre as restantes, sem entrar em detalhamentos. A opção da inclusão de comentários para todas as obras implica necessariamente uma maior extensão do texto do que seria o caso se apenas fossem escolhidos alguns exemplos; por isso, para evitar resultados parciais que poderiam mais facilmente derivar em hipóteses errôneas, foi mister estudar e analisar as vinte sonatas compostas no período em questão, decisão esta que se vê justificada ante a falta de estudos completos sobre a matéria.
Esta divisão estrutural do trabalho permite que a primeira parte possa
ser lida praticamente como um livro de história, que não precisa da segunda
para ser compreendida, enquanto que a segunda parte funciona mais como um
manual de consulta, seja para conhecer de forma detalhada as características de
cada uma das sonatas, seja para utilizar a seção correspondente como material
de apoio para o estudo prático das obras.